domingo, 23 de março de 2014

Título: Trem noturno para Lisboa

Sinopse

Autor: Paul Mercier
Sinopse: Fenômeno editorial na Alemanha — onde ultrapassou a marca de dois milhões e meio de exemplares vendidos e ficou anos nas listas dos principais veículos —, TREM NOTURNO PARA LISBOA extrapolou as fronteiras da literatura. Terceiro romance de Pascal Mercier, na verdade o professor de filosofia Peter Bieri, ganhou ares de expressão idiomática, usada para designar mudanças de vida. Mercier cria um personagem emblemático, o português Amadeu do Prado. Herói literário com o único objetivo de retratar seu criador. Invenção tão perfeita, que, nos últimos anos, muitos estrangeiros se deslocam para terras lusitanas em busca do escritor fictício.
Tudo começa numa manhã chuvosa, quando Raimundo Gregorius, um homem culto, professor de línguas clássicas, impede que uma mulher se jogue de uma ponte em Berna. O professor se encanta com os sons do balbucio incoerente da suicida. Ao questionar que língua é aquela, fica sabendo se tratar do português. Hipnotizado pela musicalidade do idioma, acaba por comprar um livro do autor português Amadeu Inácio de Almeida Prado, intitulado Um ourives das palavras. Uma reflexão sobre as múltiplas experiências da vida: solidão, finitude e morte, amizade, amor e lealdade.
Fascinado por Prado, Gregorius tenta compreender o misterioso escritor, um médico que morreu 30 anos antes. A obsessão o faz largar sua rotina bem organizada e pegar o trem noturno para Lisboa. Numa descoberta do outro que acaba por ser uma descoberta de si próprio. Ao longo das investigações que o levam pelas vielas da capital portuguesa, ele encontra pessoas que conheceram Prado. E constrói a imagem de um médico e poeta admirável, que lutou contra Salazar. Gozou de enorme popularidade até salvar a vida de um oficial da polícia secreta. Depois disso, as pessoas que o veneravam passaram a evitá-lo. Na tentativa de se redimir, trabalhou para a oposição clandestina.
Gregorius se descobre antítese de Prado, um homem inquieto, capaz de desafiar os pontos de vista ortodoxos. Agora, através de sua influência póstuma, o prudente professor é impulsionado a mudar. Mas o que significa conhecer outra pessoa, compreender outra vida? O que significa para o conhecimento de nós mesmos? É possível fugir da rotina? Este romance é uma epopeia multifacetada de uma viagem através da Europa e do nosso pensar e sentir. Fonte: editora record
  • Fernanda Santos Considerem apenas como um exercício, uma brincadeira, uma apropriação gerada pela admiração da obra de Pascal Mercier.

    "... Porque de uma vida apenas, uma única, dispõe o homem.

    E se para ti esta já quase se esgotou, nela não soubeste ter por ti respeito,
    tendo agido como se a tua felicidade fosse a dos outros... Aqueles, porém,
    que não atendem com atenção os impulsos da própria alma são
    necessariamente infelizes." Pensamentos, Marco Aurélio.

    Carregava dentro de si nem mais nem menos que o mundo inteiro, na verdade, vários mundos. Mas todos eles incompletos. Esta era a idéia que fazia de si. Embora soubesse que era um enorme exagero... Mas como dominar este pensamento que estava sempre inundando-a? Parecia mais um espectro do personagem de Mercier.
    Enquanto vagava pela rua ladeada de lojas, pressentia as pessoas indo e vindo de um lado e outro. Sentia odores; eram vagos, distantes. Ouvia rumores indistintos. E continuava indo em frente...
    Surpreendeu-se com a imagem daquela mulher vestida com um chamisier preto com estampa miúda de flores brancas, mangas 3/4 , os sapatos bege, simples, que acomodavam pés pequenos e pernas longas tornedas. Nas mãos, uma pequena bolsa bordô de alças curtas, entrelaçada nos dedos longos. Os cabelos curtos castanhos, anelavam-se em volta do rosto abatido. Um rosto sem cor, sem vida, sem história. Apenas os olhos escuros chamavam a atenção: carregavam interrogações e um sentimento de "estarem perdidos".
    Quando tocou os cabelos, percebeu-se na imagem refletida da vitrine. Era ela então? Era assim que estava? Era assim que os outros a percebiam? Quando foi que deixou de se reconhecer?
    No fundo da loja vizualizou o adesivo: "Sorria, você está sendo filmada". Sorriu para si. Depois, sorriu de si. E, de repente, teve uma sensação inquietante, indefinida. Sorriu mais uma vez, agora como que experimentando este movimento facial. Aos 37 anos, estava, finalmente, experimentando este formigamento libertador. Foi vendo aquela mulher da vitrine transfigurar-se... O rosto parecia iluminar-se, a boca, antes retesada, flexionou-se e esboçava um sorriso, eu diria, quase aberto. Mas eram os olhos. Os olhos mais uma vez mostravam, como janelas abertas para o sol, que encontrara um caminho. 37 anos! Estava prestes a tomar as rédeas da própria vida. Abandonaria o confortável casulo, que era sua cidade. Conhecia cada rua. Cada casa. Cada saliência dos becos. E , além de tudo, conhecia todas as pessoas daquele lugar. Conhecia tão bem cada um deles! Cada um de seus problemas, de suas alegrias e tristezas. Partilhavam tudo. Ajudava a todos. Aconselhava, olhava as crianças, podava os jardins, respondia as cartas, fazia as compras no mercado, lecionava e ouvia a todos. Era a " amiga de todos".
    Nascera ali, fora criada na mesma casa onde morava. Nunca teve coragem de sair . Nem mesmo quando se apaixonou. Ele foi para a cidade grande. Ela ficou. O que seria dela em uma cidade grande!? Ficaria perdida!
    Aos poucos, a viam como um utensílio que pertencia a cidade de Campos Altos.
    Agora, chegou o momento de libertar-se. Libertar-se desta limitação auto- imposta. 
    Olhando-se, não soube precisar o quê despertou este sentimento tão repentino. Repentino? Não, sempre pressentiu uma vida que queria chegar a superfície, sem conseguir alcançá-la. Sempre abafou-a com as atividades da comunidade. Agora era definitivo. Não sufocaria esta outra vida. Mercie, novamente... Sairia do seu refúgio. Sem mensagem, sem pertences, sem despedidas, sem perdas, sem nada. 
    Em direção a estação, levava consigo apenas a leveza de ser livre e o livro Trem Noturno para Lisboa. by http://folhasoutono.blogspot.com.br/
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