segunda-feira, 23 de março de 2015

RESENHA: BALADA DA INFÂNCIA PERDIDA, DE ANTÔNIO TORRES

RESENHA: BALADA DA INFÂNCIA PERDIDA, DE ANTÔNIO TORRES

O meu pai não veio e não virá jamais. Odeia todas as cidades, sem distinção de tamanho, situação geográfica, renda ‘per capita’ ou densidade populacional. Diz que são invenções do diabo. Elas roubaram todos os seus filhos. (p.7)
Ler Antônio Torres é ler o insondável. Encontrei alguns elementos surpreendentes nessa narrativa do grande mestre Antônio Torres, imortal da Academia Brasileira de Letras e da Academia Baiana de Letras.
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Antônio Torres no Corcovado, Rio de Janeiro (foto de André Correa)
Balada da infância perdida (1986) é o sétimo livro da carreira de Antônio Torres (Sátiro Dias, 13/09/1940), que sabe escolher título de livro, não é?! Lindo esse! Tem um quê de nostalgia, lirismo, um título poético. Esse é um dos livros que mais gostei do autor, tem uma variedade de elementos incríveis: prosa poética, alguns poemas, imagens bem construídas, algo de tragicomédia, família, o rural e a cidade, política, o sobrenatural, o onírico que faz o personagem entrar numa festa do “The great Gatsby”, sonhar reiteradamente com caixões, com sua mãe, sua tia e com o primo Calunga, todos falecidos. A magia de uma narrativa escrita há quase 30 anos, mas que continua atual. No que se refere às tecnologias, aquela época era diferente, mas não parece, só faltou citar o Facebook. Os fatos, os problemas sociais e existenciais, parecem que não mudaram muito, aliás, certas coisas nunca mudam. Por isso Antônio Torres é um clássico, porque seus livros são  atemporais, chegaram até aqui sem perder seu valor e podem tocar gente muito diferente, independente de classe social e de qualquer nacionalidade, tanto que já foi traduzido em vários países.
Falando em tradução, saiu a versão francesa de “Meu querido canibal”(“Mon cher cannibale”), traduzido por Dominique Stoenesco, com prefácio de Rita- Olivieri Godet. O lançamento acontecerá durante o Salon du Livre de Paris que começa hoje até o dia 23 de março, com a presença do autor, que já está em Paris. Voilà!
Como o nosso país vive tempos convulsos, escândalos de corrupção, o país dividido, cortado em duas bandas em pé de guerra, sempre é bom recordar que a ditadura deve ficar no passado, só na história e na ficção Independente do que aconteça, a democracia jamais deve ser tocada. Como disse Cervantes, “A liberdade, Sancho, é um dos mais preciosos dons que os homens deram aos céus.”. Não percamos o bom senso e nem entremos em estado de histeria coletiva, radicais de ambas tribos. Equilíbrio é a palavra. Ninguém está tão certo, nem tão errado. Abaixo, o protagonista recordando tempos amargos:
Quarenta anos.
Aos vinte, me enfiaram uma ditadura pela garganta.
Agora que chego à idade madura, tenho de aguentar o peso do meu cansaço. Qual é a graça?
Em “Balada da infância perdida” há muitas citações e referências literárias, o espanhol Garcia Lorca, Charles Baudelaire, Scott Fitzgerald, o cineasta Carlos Saura, Gregório de Matos, Marcel Proust, Jacques Brel, Christiane Rochefort (“O repouso do guerreiro”, anotei na minha lista) e também Castro Alves, justo o poema que o menino Antônio Torres recitou em plena praça pública lá no Junco (hoje Sátiro Dias), ele sempre conta este “causo” nas suas entrevistas, dá uma olhada na web do escritor. Mas nesse caso, Calunga, Luis Carlos Luna, seu primo beberrão, que poderia ter um futuro “lindo”, mas não teve,  foi que quem recitou o poema, nervoso, diante da ovação dos presentes.
Torres encontrou uma forma muito criativa de separar os capítulos, de arquitetar a obra: o primeiro capítulo é introduzido com uma canção de ninar, que depois a gente vai entender o motivo, os próximos quatro são numerados, o sexto: Primeira hipótese: MAMÃE; o sétimo, Segunda hipótese: TIA MADALENA, A MÃE DE CALUNGA.
A mãe falecida bate altos papos com o filho vivo. Isto é, o narrador acredita nisso, parecem alucinações. As histórias da família começam a ser desenhadas: Zé, o pai manco e sua mãe foram capazes de gerar vinte e quatro filhos! A origem e as memórias rurais do autor acabam presentes em vários dos seus livros, dando um ar nostálgico, um memorial de sensações sofridas e alegres, contraditórias, nesse também. Antônio Torres é a memória de muitos imigrantes que abandonaram suas terras natais para tentar encontrar o seu lugar no mundo. As obras de Antônio Torres sempre estão em movimento.
Doce família baiana. Adora ser visitada. Principalmente pelos que moram longe e podem chegar de uma hora para outra, cheios de novidades. A porta estará sempre aberta e a mesa já vai estar posta. Hoje é dia de feijoada, caruru, vatapá, sarapatel ou o quê? (p.88)
E a tia Madalena defunta, “uma sargentona nata” (p.78) aparece nos sonhos do narrador, que ressuscita a tia através da descrição tão real que faz dela. Papo bem terrenal, a tia defunta protesta com o sobrinho por ainda não tê- la levado ao Mc Donald’s. Achei a cara do Modernismo! Eu classificaria essa obra de Antônio Torres como patafísica. É isso, é uma narrativa cheia de elementos patafísicos, surrealismo em estado puro. Transcende a narrativa linear, o espaço é um terreno inóspito, desconhecido, o da memória, talvez. Esse livro daria uma fantástica adaptação teatral. Veja o trecho abaixo (p.159), Che Guevara repousava no quarto do narrador, se a imprensa descobrisse, ele seria homenageado aonde? Na Academia Brasileira de Letras, entre outros lugares. Antônio Torres visionário? Aguentou firme os “quarenta discursos”, mestre?! 
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Em A terceira hipótese, (p.86) pode ser o capítulo que explique o porquê de tantos sonhos e caixões. A notícia sobre o primo Calunga morto prematuramente aos quarenta anos por causa da bebida. Até então os diálogos (ou monólogos?) com os defuntos pareciam acontecer no plano onírico, mas a história muda de dimensão. A conversa começa a acontecer com o narrador acordado. A realidade do absurdo.
 Um livro imprevisível, o que vem depois?! Talvez venha a saudade:
Você, em cima da carga, ia deixando o seu velho mundo para trás. Aqui e ali umas vaquinhas, umas ovelhas, uns cavalos. Pastos. Roças de mandioca. Uma casa com varanda. Uma casinha caiada, com uma árvore na porta. Quintais de bananeira. E o sol, morrendo no poente, dourando tudo. Era um pôr-do-sol amarelo com riscas vermelhas: uma pintura. Linda. Bateu uma coisa estranha dentro de você. O que era aquilo? Uma dor? Uma saudade? A partida. Você estava indo embora. Para sempre. (p.95)
O narrador- personagem não tem nome, só sabemos que é redator e casado com Cris, ele é o alter-ego de Antônio Torres, possivelmente, já que muitos trechos são autobiográficos (inclusive a profissão). A cidade venceu Calunga, que mergulhou no álcool para amortecer a vida que não queria ter. Muita gente imigra, sofre e sente- se só. Que aconteceu com Calunga? Foi vencido. Como ele, muitos. Para Calunga os versos de Alexandre O’Neill (p. 155). O último capítulo, Boi, boi, boi/boi da cara preta. Começa assim: Vai ver a minha tia é quem tem razão: – A culpa é dos comunistas. Calunga foi empregado por um comunista. Tudo é culpa dos comunistas, a mãe os culpou pelo deterioro e morte precoce do filho. O narrador faz uma defesa do Comunismo (p.178) lista uma série de dados e estatísticas que os comunistas denunciam sobre tudo de errado que acontecia no Brasil.
Contexto histórico: pós- ditadura, 1986. Um dos dados: “Que só existe um médico para cada 1700 pessoas?”, argumenta com a tia Madalena, que detesta comunistas. E “Que, no ano da graça de 1986, temos 38 milhões de pessoas na mais completa miséria?”. E segundo dados do IPEA de 2014, 0 Brasil ainda tem 26,24 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza. Outro dado: “Que 40% da população está desempregada?”.
E infelizmente, tenho que dizer, que quase 30 anos depois e 12 anos do governo do Partido dos Trabalhadores, com tendência comunista, esses dados melhoraram, mas não o suficiente, ainda existe no país muita gente abaixo da linha da pobreza. Segundo os dados do IBGE (2014), no Brasil existe 1,95 médicos por mil habitantes, mesmo com o programa “Mais Médicos”, um dos maiores absurdos da história brasileira, a “importação” de médicos cubanos, a modo reféns no país. Metade do dinheiro fica em Cuba e os médicos só receberão a outra parte, se e quando, regressarem ao país, que vive uma ditadura. O governo brasileiro amicíssimo dos Castro e fazendo pactos com a ditadura e troca de favores estranhíssimos. No Maranhão, só existe meio médico para cada 1000 habitantes, 0,68%. Sobre o desemprego, o dado oficial, que agora é de 6,8% é uma número mascarado, já que as pessoas que não procuram emprego e estão desempregadas não entram para essas estatísticas e nem as pessoas que exercem ofícios informais (que são muitas!). Segundo o economista Ricardo Amorim, o número real de desempregados no Brasil é quase a metade da população em idade para trabalhar:
Pelos dados oficiais do IBGE, de cada 100 brasileiros em idade de trabalho, 53 trabalham, três procuram emprego e não encontram e 44 não trabalham nem procuram emprego. É considerado desempregado quem procura emprego e não encontra (3%) sobre o total dos que procuraram emprego (56%): 3% / 56% = 5%. Quem não procura (44%) tecnicamente não está desempregado. Esta não é uma manipulação estatística feita pelo governo brasileiro. O mesmo conceito vale no mundo inteiro. Porém, se a estatística não é manipulada, sua interpretação é. Baseado na estatística de desemprego, o governo sugere que quase todos os brasileiros têm emprego. Na realidade, quase metade (47%) não tem.
Falta transparência e honestidade. Essencial é ajudar as pessoas que estão na miséria no país, o que se faz ainda é insuficiente e da forma equivocada. Provoca- me repulsa que cobrem 25% dos aposentados que moram no exterior, fora o imposto “normal” que todos pagam. E mais, agora cortaram 50% da pensão por viuvez. Além de perderem marido ou esposa, ainda levam uma cacetada destas! Por que mexer com esse coletivo tão frágil? A maioria dos aposentados e pensionistas no Brasil não recebe o suficiente para a própria sobrevivência, justamente na fase que pode precisar de mais de cuidados e tratamentos médicos. Isso não é fazer socialismo, tirar de pobre, aonde já se viu?! Karl Marx deve estar se revirando na tumba! Os fins não justificam os meios, as coisas podem e devem ser feitas de outra maneira. Afinal, O SHOW TEM QUE CONTINUAR (título do último capítulo, pg. 172).
Eu quero um novo partido socialista no Brasil, que não prejudique aos pobres, aos remediados e nem aos ricos, bom senso! Eu quero um governo socialista que promova ações de integração e de eliminação da miséria reais e duradouras, que não classifique as pessoas pela sua cor  e que una o país por um objetivo comum e não fragmente uma nação gigante como a nossa! A esquerda “endireitou”, estão todos iguais, inclusive no quesito corrupção. O comunismo se perdeu, anda perdido. Com esse a parte, seguimos…
Antônio Torres escreveu obras, pelo menos as que li até agora, que podem encaixar- se na tradição modernista (o regionalismo, o surrealismo, por exemplo), principalmente de terceira geração, mas Balada da Infância Perdida também tem elementos muito pós- modernos. Essa obra me deixou confusa (no bom sentido). Talvez a pós- modernidade seja isso, confusão. Mas… como seria uma obra de Antônio Torres escrita hoje? Já existe uma literatura pós- moderna com características comuns a todas as obras ou paramos no Modernismo? Já dá para definir a literatura de hoje? Ou a literatura contemporânea ainda é a de antes? A crítica deu fim ao Modernismo lá pela década de 70 (serve como marco, mas isso não é exato, cada crítico dá uma data diferente). Mas será que vivemos um Modernismo tardio? As vanguardas persistem e resistem? Por que não conseguimos definir e nomear o que anda acontecendo? Ainda continuamos na fase da “literatura de permanência” de Antônio Cândido? Por que é tão difícil ver com clareza o que acontece agora? Já sei, é a “era da modernidade líquida”, uma época de crise de identidade das Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais, em resumo: da espécie humana. Se eu achei essa obra “atual”, e esse é um livro modernista (escrito 16 anos depois do fim dessa escola, “oficialmente”), não saímos do Modernismo, então? Eu fico tentando procurar diferenças entre as duas “escolas”. A Literatura Contemporânea ainda é coisa para se definir, inclusive o próprio termo é inexato e inadequado. Vamos pensar nisso?
Anota esse na sua lista, livraço!
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Torres, Antônio. Balada da infância perdida. Record, Rio de Janeiro, 2011. ePub. 178 páginas (edição não corrigida segundo com o novo acordo ortográfico).

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A saudade corroí o coração e os dias se tornam meses...

Eu so queria que tudo se acabasse logo e eu regressasse agora mesmo pra o meu Brasil.
Uma vez eu ouvi uma musica que mexeu muito comigo. E hoje ela faz todo o sentido.
Nao posso mais estar longe. Nao sei mais sorrir tao longe de vocês...
A saudade corroí o coração e os dias se tornam meses...

Me diz, me diz como ser feliz em outro lugar...
Ivan Lins


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Alô, 2015?!



Alô, 2015?!

Chegamos, estamos aqui, aleluia! Alô, 2015?! Deixa conosco tudo e a todos que amamos, só leva pra longe a tristeza, a violência, as desavenças, as enfermidades, o desamor. Traz consigo o emprego que sempre sonhamos, a casa que merecemos, a saúde que nos torna fortes e felizes, o amor que nos faz imortais. Afasta o olho- gordo, a inveja, os vampiros de energia, a maldade em forma de sorriso, a língua viperina. Que ao nosso redor só permaneça o querer bem, a sinceridade e a verdade. Alô, 2015?! Dai- nos o dom de ignorar. Ignorar tudo o que nos faz mal, já que o que não sabemos não existe. Que saibamos plantar o bem sem olhar a quem!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Florbela Espanca

PDF grátis: Florbela Espanca

Florbela Espanca, poetisa portuguesa, nasceu e morreu no mesmo dia 8 de dezembro (Vila Viçosa, 1894- Matosinhos, 1930). Seu nome de batismo: Flor Bela Lobo, filha de Antonia da Conceição Lobo e pai desconhecido. Sofria de neurastenia, casou duas vezes e divorciou- se duas vezes. Perdeu a mãe que sofria de neurose e perdeu também o seu irmão, o que agravou seus problemas psicológicos, além de um edema pulmonar. Suicidou- se no dia que nasceu e dia também do seu primeiro casamento. (fonte: citi.pt)
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Viveu pouco, mas muito intensamente os seus 36 anos. Sua primeira obra “O livro das mágoas”, versos sofridos, doídos:
A MINHA DOR
À você
A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.
Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal …
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias …
A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve … ninguém vê … ninguém …
Sua obra caracteriza- se pelas fortes emoções, pela dor e pelo desejo de ser feliz. Florbela tornou- se uma das escritoras portuguesas mais conhecidas e até de culto, possivelmente porque conseguiu colocar nos seus versos a dor e a esperança de muita gente.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

UMA AJUDA ESPETACULAR


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Quando sua esperança vem de dentro, sua vida vai bem enquanto você estiver bem. Sua fé é forte enquanto você estiver forte. Mas, aí é que está o problema. A Bíblia diz que ninguém é bom. Nem tampouco tem alguém que é forte o tempo todo, ou seguro. Precisamos de ajuda de dentro para fora.
Jesus prometeu este tipo de ajuda em João 14:16-17 quando Ele disse, “Eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, vocês o conhecem… pois Ele vive com vocês e estará em vocês.”
Não perto de nós. Não acima de nós. Não ao nosso redor. Mas, dentro de nós. Naquela parte de nós que nem conhecemos. No coração que nenhum outro viu. Nos cantos escondidos do nosso ser habita, não um anjo, não uma filosofia, nem um gênio, mas o Espírito de DeusImagine isso!
Max Lucado, em “QUANDO DEUS SUSSURRA SEU NOME”

terça-feira, 11 de novembro de 2014

ERA DOR

Publicado em  em Historias contadas

Existem muitas maneiras de se fazer fogo. Quando se conhece o básico de sobrevivência e precisa-se muito de fogo, qualquer pessoa arranja alguma forma. Qualquer pessoa.
Na cela que não tinha de dividir com ninguém, Ella mantinha seu foco no fogo e se esforçava ao máximo para criar alguma faísca. Era tudo o que restava a fazer.
- Do fogo viemos e ao fogo tornaremos – Repetia diariamente.
Era escuro em sua cela e os guardas eram brutais, uma pena pesada demais para alguém que queria apenas ver o mundo iluminado pelas mais belas chamas, azuis, verdes, vermelhas e amarelas. Qualquer variação possível seria um acréscimo na beleza à tudo aquilo. O cheiro da fumaça adentrando seu nariz… O cheiro era sempre diferente, dependendo do material que era queimado. Plástico e borracha eram extremamente desagradáveis, mas não importava, ela gostava de ver qualquer coisa queimar.
O fogo era extremamente purificativo.
No escuro, ela conseguia sentir cada elevação na pele, queimaduras de mais de um grau, que havia sofrido em consequência dos experimentos com fogo.
- Do fogo viemos e ao fogo tornaremos.
O fogo era extremamente purificativo, ela tinha certeza. Não se importava com as queimaduras, elas a tornavam limpa.
Ela lembrava do primeiro cara que havia queimado. Era algum surfista cheio de luzes nos cabelos… Pobre alma, não sabia que aquela não era uma forma muito criativa de se iluminar, mas Ella solucionara isso. Havia sido simples demais.
Ela jogou gasolina em cima dele e na cama do motel em que haviam se usado. Ele acordou por causa do cheiro forte e desagradável, mas já era tarde demais. Ela já estava o abençoando com seu único isqueiro na mão, ateando fogo nos lençóis.
Ela ainda via-o, os cabelos não tinham mais luzes, mas ele estava bem iluminado. Por vezes ele a visitava em sua cela, trazendo a luz consigo. Conversavam sobre várias coisas, inclusive sobre o poder do fogo.
Os outros nunca apareciam, mas ela sabia que eles estavam por aí, aproveitando sua segunda vida infernal. O fogo era o que todo homem merecia.
- Do fogo viemos e ao fogo tornaremos.
O fogo era extremamente purificativo.
O cheiro de humano queimando nunca fora muito agradável, mas isso não importava muito, pois ela gostava da aparência que a carne adquiria enquanto queimava. Ela poderia comer as cinzas, mas tinha repulsa por canibalismo, era um ato extremamente imoral e desumano.
Uma noite o surfista veio, trazendo luz e seu único isqueiro, com apenas um pouco de líquido ainda dentro. O isqueiro estava morno do fogo fantasma que o surfista carregava. Naquela noite, ele não disse nada e ela o imitou. Não havia nada a ser dito, eles sabiam:
- Do fogo viemos e ao fogo tornaremos.
Ela passou o resto da noite acordada, encarando o brilho do reflexo gelado da lua no metal do isqueiro. Quando ateou fogo em si mesma, não gritou imediatamente, demorou até estar irremediavelmente queimada, utilizando-se de uma força inumana para suportar a dor calada. O fogo era extremamente purificativo e à ele Ella tornou.
O sorriso durou apenas até perceber que aquilo não era o céu, era a dor.
Por Rebeca Queiroz

domingo, 19 de outubro de 2014

RESENHA: Minha culpa é te amar. Autora: Fernanda Santos Navarro

Para quem gosta de um bom romance, recomendo essa leitura. Depois que ler a resenha, ficará curioso(a) para ler o livro todo.
Autora: Fernanda Santos Navarro
Ano: 2014
Gênero: Romance
Editora: Multifoco

Sinopse:

Duas amigas, dois mundos diferentes, que se unem encontrando o amor verdadeiro em meio a traição. Beatriz e Alicia são diferentes em todos os aspectos, mas isso não impede de se tornarem inseparáveis. Vivendo uma linda amizade entre o cálido Rio de Janeiro e a fria Dublin (Irlanda). Até que algo muito grave acontece, colocando em risco essa linda amizade. Será que uma verdadeira amizade suportará tamanha traição?
É uma prova de fogo entre o amor verdadeiro e uma amizade sincera. Até que ponto o chegará essa amizade?

RESENHA:
Minha culpa é te amar. Autora: Fernanda Santos Navarro Sinopse: Duas amigas, dois mundos diferentes, que se unem encontrando o amor verdadeiro em meio a traição. Beatriz e Alicia são diferentes em todos os aspectos, mas isso não impede de se tornarem inseparáveis. Vivendo uma linda amizade entre o cálido Rio de Janeiro e a fria Dublin (Irlanda). Até que algo muito grave acontece, colocando em risco essa linda amizade. Será que uma verdadeira amizade suportará tamanha traição? É uma prova de fogo entre o amor verdadeiro e uma amizade sincera. Até que ponto o chegará essa amizade? Resenha: Minha culpa é te amar, livro da autora Fernanda Santos Navarro conta a história de duas amigas unidas por um amor incondicional, onde nem irmãos têm.
O que encanta na historia dessa linda amizade é a proteção que uma tem com a outra, sempre uma se preocupando com a felicidade da outra e também a telepatia de pensamentos, ao mesmo tempo com personalidades bem diferente uma da outra. A primeira coisa que me fez apaixonar pelo livro foi o título. Só que o livro me surpreendeu, é muito mais profundo que o título e à medida que ocorrem os acontecimentos mais difícil fica de parar de ler. Beatriz e Alicia são as personagens centrais. A amizade de ambas é que conduz todo o enredo do livro. Desde a história inicial de como iniciou a amizade e passando por vários desafios até o final do livro. É um livro linear, onde se tem passagem de tempo para contar a história e as batalhas de sentimentos das personagens. O livro é dividido em três partes.
A primeira parte, conta o inicio da amizade, como surgiu e o amadurecimento das duas personagens. Beatriz tem uma vida financeira tranquila, sempre consegue as coisas, seus desejos com facilidade. Já Alicia tem uma vida oposta, sempre encontrou dificuldades, mostrando que para viver a luta diária, com muito esforço e dedicação. Enquanto Beatriz sonha com um príncipe encantado, Alicia é mais realista e fria, apenas sonha com um homem rico. A autora conseguiu com muita riqueza detalhar essa diferença de vida, deixando a história mais emocionante.
A segunda parte narra como as duas foram para Europa. Essa parte do livro é quase um guia turístico, narra não só as personagens em suas aventuras pela Europa, como também mostra os pontos turísticos de uma forma bem detalhada, explicando a história de alguns pontos. Nessa parte, confesso que assustei com a amizade das duas e desconfiei de que as duas estavam se apaixonando. Mas na verdade, as duas tinham um amor de alma, então elas não tinham medo de expor essa amizade. É gostoso também de ver a reação de Alicia. Enquanto para Beatriz tudo era normal, pois a personagem não só é bem viajada, como também tem amigos espalhado pela Europa (mais na frente essas amizades é que acolhe no momento delicado). Já para Alicia tudo era novo, os lugares, a história, o clima, ela não escondia a emoção em cada viagem, em cada lugar. O Livro contém fotos de alguns lugares turísticos na qual as personagens passaram, fazendo assim que os leitores tenham a imagem do local visitado por Beatriz e Alicia. Para alguns leitores, isso pode ajudar a construir a cena, para outros isso pode prejudicar justamente atrapalhando na construção da cena. Mas nessa parte é a que mais amei, pois, fala em detalhe, sobre os pontos turísticos e um pouco da cultura da Europa, tornando o continente mais apaixonante. Mostra também a realidade do local, ou seja, que no fundo os problemas das cidades são todas iguais. Ainda na mesma parte, a autora continua contando a volta das amigas ao Brasil. Beatriz volta estranha e partir desse momento a história começa a passar por uma transformação, a amizade entre as amigas passa por alguns testes. A terceira parte conta a decisão de Beatriz em voltar a morar fora do Brasil, nessa última parte o livro é cheio de decisões, nem sempre fácil de resolver. É a partir desse momento que as personagens passam por mudanças quase radicais comparando com a vida tranquila que tinham levado até então. Enquanto Alicia engravidou e casou, Beatriz continuava sua vida europeia na casa de uma amiga brasileira na Irlanda. Outra mudança acontece no dia em que Beatriz em uma visita ao Brasil conhece os filhos e marido de Alicia. Onde ambos têm atração imediata. Assim inicia outra fase turbulenta das personagens, onde mostra até que ponto um amor proibido pode ser vivido sem prejudicar pessoas que amam. Confesso que nessa parte fiz a leitura em um dia, pois não aguentava esperar o dia seguinte para ver o que ocorreria com os personagens e a cada cena que passava, mas ficava emocionante, pois queria chegar ao final o mais rápido.
O final é claro que amei, com sempre espero nas histórias de amores com encontros e desencontros, mas com final feliz. Não consigo encontrar defeito no livro, pois a leitura foi fiel ao que sempre gosto de ler, mas, se for para falar o que senti falta no livro, eu exponho que foi à divisão por capítulos, por ser dividido somente em três partes, o livro torna-se um pouco cansativo para ler, principalmente para quem gosta de fazer a sua leitura como se fosse novela global, um capítulo por dia. Também senti falta de mais diálogo, amo livro com diálogo intenso e longo.

Porque amei:

O livro no geral tem uma linda lição de moral, a autora é bem intensa nos conflitos e consegue trabalhar com delicadeza o que realmente é valido na vida. Deixando para refletir até que ponto pode-se levar seu sentimento adiante, onde todo ato tem uma consequência. Mostra também que com Fé, não precisamos correr atrás, porque no final Deus trás quem você merece e o que você merece. O mundo gira, automaticamente quem convive no nosso meio mudam ou amadurecem, às vezes mudam para um lado positivo e outros para um lado negativo, mas saber esperar o tempo de Deus e reconhecer quando isso acontecer, faz toda diferença em cada decisões da vida. É um livro lindo que vale a pena ler. E que expõe o que no mundo de hoje esta precisando. Mostrando que o bem gera o bem, o amor gera o amor. E que tudo na vida com respeito, não só pode ser perdoado, como podemos gerar a paz. O amor é sublime de todas as formas. Basta saber conduzir o sentimento com Fé e sabedoria. A nobreza do amor não está só nas palavras, está também nas atitudes.

Porque recomendo:

O livro deixa a lição de como devemos ser sempre sábios para conduzir nossa vida, pensando no próximo sem deixar de viver sua vida, seus sonhos. Lição sobre a amizade é o foco central do livro e comovente do início ao fim.
Sem falar que se passa pela Europa, fazendo nós viajarmos com os belos lugares narrados. É praticamente um romance guia turístico. Para quem ama amizade verdadeira,viajar, ama romance e ama Europa como eu, esse livro é PERFEITO
Patrícia O. Brito Souza. Leitora apaixonada pelo mundo dos livros e romance

Debaixo da Mesma Lua, Uma historia de amor e Vinhos

Debaixo da Mesma Lua, Uma historia de amor e Vinhos Vem comigo na construção de um lindo romance. Vou compartilhar vários trechos desse roma...