T.S.Eliot (Thomas Stearns Eliot, St. Louis, 26/09/1888 - Londres, 04/01/1965) não é um poeta fácil. Seus versos são herméticos, sua expressão poética é cheia de alusões culturais, misturas de idiomas, o poeta utiliza elementos visuais, como se fossem collages. Os elementos místicos, as cartas do tarô, a magia, dão esse tom obscuro, simbólico. T.S.Eliot é um escritor para decifrar:
James McColgan – Midnight Tree
I. O ENTERRO DOS MORTOS*
Abril é o mais cruel dos meses, brotando
Lilases da terra morta, misturando
Memória e desejo, removendo
Turvas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos mantinha quentes, cobrindo
A terra de neve esquecida, nutrindo
Um pouco de vida os tubérculos secos.
O verão nos surpreendeu, chegando em cima do Starnbergersee
Com um dilúvio; paramos junto às colunas
E continuamos com a luz do sol até Hofgarten,
e tomamos café, e falamos por um bom tempo.
Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
E quando éramos crianças, estando com o arquiduque,
Meu primo, convidou-me para passear em um trenó.
E tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te forte. E para lá descemos.
Nas montanhas, a pessoa se sente livre.
Eu leio boa parte da noite, e no inverno vou ao sul.
Quais são as raízes que me aferram, que galhos crescem
Desse pétreo lixo? Filho de homem,
Não podes dizer, nem imaginar, porque só conhece
Um monte de imagens quebradas, que pegam o sol,
A árvore morta não dá abrigo, nem o grilo dá alívio,
Nem a pedra seca faz barulho água. Só
há sombra debaixo desta rocha vermelha.
(Entra debaixo da sombra desta rocha vermelha),
E vou te ensinar algo diferente, tanto
de tua sombra pela manhã caminhando atrás de ti
como de tua sombra pela tarde subindo ao teu encontro;
Vou te mostrar o medo num punhado de pó.
Frisch weht er Wind
Der Heimat zu
Mein Irisch Kind,
Wo weilest du?
”Deste-me jacintos pela primeira vez há um ano;
Chamavam-me a menina dos jacintos.”
- Mas ao voltarmos, tarde, do Jardim dos Jacintos,
Teus braços cheios de jacintos e teus cabelos molhados, não pude
Falar, e me falharam os meus olhos, eu estava nem
vivo nem morto, não sabia nada
Olhando o coração da luz, o silêncio.
Oed’ und leer das Meer.
Madame Sosostris, famosa vidente,
Tinha um forte resfriado; no entanto,
É conhecida como a mulher mais sábia da Europa,
Com seu perverso baralho. Aqui, disse,
está sua carta, o Marinheiro Fenício afogado.
(Pérolas são esses que foram seus olhos. Olha!)
Eis aqui Beladona, a Madona das Rochas,
A Dama das Situações.
Aqui está o Homem dos Três Bastões, e aqui a Roda da Fortuna,
E aqui se vê o mercador caolho, e esta carta,
Que em branco, é algo que ele leva nas costas,
Mas que me proibiram de ver. Não encontro
O Homem Enforcado. Teme a morte por água.
Vejo multidões que dão voltas em círculos.
Obrigada. Se vê a minha querida Senhora Equitone,
Diga-lhe que eu mesma lhe levarei o horóscopo:
Nesses tempos há que se ter muito cuidado.
Cidade irreal,
Sob a névoa parda de um amanhecer de inverno,
Uma multidão fluía pela Ponte de Londres, tantos,
Que não acreditei que a morte tivesse desfeito a tantos.
Exalavam suspiros, breves e pouco frequentes,
E cada um mantinha os olhos fixos ante os pés,
Fluíam costa acima e descendo King William Street.
onde Santa Maria Woolnoth dava as horas
Com um som morto na balangada final das nove
Vi alguém que conhecia e o fiz parei, gritando: “Stetson,
Você estava comigo nas galeras de Mylae!
O cadáver que plantou ano passado em teu jardim
Já começou a brotar? Florecerá este ano?
Ou a geada imprevista estragou seu leito?
Ah, mantêm longe daqui o cachorro, que é amigo do homem,
Ou ele voltará a desenterrar com as unhas!
Você! Hypocrite lecteur! – mon semblable -, mon frère”